Cafeína e paracetamol são encontrados em peixes no litoral de SP, aponta pesquisa
Pesquisadores da Universidade Santa Cecília (Unisanta) também encontraram outros elementos, como um medicamento diurético, cocaína e uma substância derivad...

Pesquisadores da Universidade Santa Cecília (Unisanta) também encontraram outros elementos, como um medicamento diurético, cocaína e uma substância derivada da droga, que é liberada pelo organismo. Estudo inédito aponta que cafeína e paracetamol são encontrados em peixes do litoral de SP Um estudo inédito revelou a presença de paracetamol e cafeína em tecidos de peixes capturados nas cidades de Santos e Guarujá, no litoral de São Paulo. Segundo os pesquisadores da Universidade Santa Cecília (Unisanta), esta é a primeira vez que as substâncias foram encontradas nas espécies estudadas. Os profissionais também encontraram outros elementos com potencial farmacológico ativo e implicações tanto ambientais quanto para a saúde humana, como a furosemida [medicamento diurético], cocaína e benzoilecgonina [substância derivada da droga, que é liberada pelo organismo]. ✅Clique aqui para seguir o canal do g1 Santos no WhatsApp. A pesquisa analisou o fígado e o músculo [região da nadadeira dorsal] de cinco espécies marinhas amplamente consumidas pela população. Sendo elas: 🐟Cathorops spixii (bagre-amarelo); 🐟Genidens genidens (bagre-marinho); 🐟Bagre marinus (bagre-bandeira); 🐟Larimus breviceps (oveva); 🐟Pellona harroweri (sardinha). Os peixes analisados foram coletados nas praias do José Menino, em Santos, e do Perequê, em Guarujá, onde a pesca artesanal é uma atividade tradicional. Inclusive, as espécies (bagre-marinho, bagre-amarelo e oveva) foram doadas por pescadores locais que realizavam arrasto na praia santista. Estudo inédito encontra substâncias em peixes consumidos na Baixada Santista, SP Unisanta/Divulgação "As três espécies capturadas em Santos estão amplamente distribuídas ao longo da costa brasileira. [Elas] são frequentemente comercializadas em mercados de peixes e compõem o que chamamos de mistura [um conjunto de espécies de menor valor comercial, mas amplamente consumido]", explicou a Unisanta, por meio de nota. Os pesquisadores destacaram que foram motivados pela ausência de estudos anteriores sobre a presença de medicamentos e entorpecentes em peixes marinhos do estado de São Paulo, que costumam ser contaminados por meio do esgoto doméstico. "É a primeira vez que são relatadas as presenças de acetaminofeno [paracetamol] e cafeína nestas espécies de peixes capturadas na costa brasileira. Além disso, é a primeira vez que quatro fármacos são identificados nos tecidos da espécie Cathorops spixii", complementou a universidade. Preocupações De acordo com os profissionais, os resultados obtidos tornam-se ainda mais relevantes diante do potencial de exposição humana por meio do consumo dos pescados contaminados. Ainda não há dados conclusivos sobre os riscos à saúde da população. A professora Luciana Lopes Guimarães, pesquisadora do Mestrado em Ecologia da Unisanta, destacou que a preocupação é crescente. "Estamos lidando com a ingestão contínua de substâncias farmacologicamente ativas através de um alimento amplamente consumido", disse ela. Sardinha é amplamente consumida na região (imagem ilustrativa) Prefeitura de Ilhabela/Divulgação Luciana complementou: "Esperamos que este trabalho marque o início de novos estudos que abordem com mais profundidade o impacto da combinação destas substâncias sobre os organismos marinhos e sobre a saúde humana". Resultados Os peixes foram transportados em caixas refrigeradas a 4ºC até o laboratório, onde os pesquisadores realizaram a identificação das espécies e anotaram as medidas morfométricas [comprimento total e massa corporal]. Os animais foram dissecados para extração de amostras de músculo e fígado. Em seguida, os tecidos foram submetidos à análise por cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massas (LC-MS/MS), uma técnica de alta precisão capaz de identificar compostos em baixíssimas concentrações. Conforme relatado na pesquisa, o bagre-amarelo apresentou os maiores níveis das substâncias, sendo que o paracetamol foi encontrado exclusivamente no músculo dessa espécie. Por outro lado, a cafeína apresentou concentrações mais elevadas no bagre-bandeira, o que os autores relacionaram aos registros anteriores de altos níveis deste composto na região costeira analisada. Outro dado relevante do estudo foi a discrepância observada entre os níveis de cocaína e benzoilecgonina, especialmente no bagre-amarelo e na oveva. "A presença de benzoilecgonina é um indicativo claro do consumo humano de cocaína, com posterior excreção da substância por meio da urina. A provável origem de todos os compostos detectados é a descarga irregular de esgoto doméstico, agravada pela ausência de tratamento eficiente", apontou a pesquisa. Estudo inédito encontra substâncias em peixes consumidos na Baixada Santista, SP Unisanta/Divulgação Estudo O trabalho foi desenvolvido por Luciana Lopes Guimarães, Vinicius Roveri, Ursulla Pereira Souza e João Henrique Alliprandini da Costa, que são professores e docentes dos programas de pós-graduação stricto sensu da Unisanta. Eles tiveram o apoio dos Laboratórios de Pesquisa em Produtos Naturais (LPPNat) e de Biologia de Organismos Marinhos e Costeiros (Labomac), além da colaboração internacional do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR - Portugal). A investigação inédita foi publicada na revista científica internacional Regional Studies in Marine Science, do grupo Elsevier, mas os pesquisadores já planejam expandir os estudos para outras áreas do litoral brasileiro. O objetivo é reforçar a importância do monitoramento ambiental e da ampliação do debate sobre o controle de poluentes, como fármacos e drogas ilícitas, nos ambientes costeiros. VÍDEOS: g1 em 1 minuto Santos