Banco telefona, manda mensagens e entra na Justiça para cobrar R$ 27 mil de família de motorista morto por Porsche de empresário
Banco Santander tem enviado mensagens para filho de Ornaldo Viana cobrando dívida de mais de R$ 27 mil que pai deixou depois que morreu. Motorista de aplicativ...

Banco Santander tem enviado mensagens para filho de Ornaldo Viana cobrando dívida de mais de R$ 27 mil que pai deixou depois que morreu. Motorista de aplicativo havia adquirido Sandero em financiamento Reprodução/Arquivo pessoal Uma instituição financeira tem feito ligações, mandado mensagens por telefone e entrou na Justiça de São Paulo para cobrar uma dívida de mais de R$ 27 mil da família do motorista de aplicativo morto em 2024, após seu carro ser atingido por um Porsche Carrera azul a 136 km/h dirigido por Fernando Sastre Filho. Câmeras de segurança gravaram a colisão em São Paulo. As imagens viralizaram e repercutiram na internet e na imprensa devido à agressividade da batida (veja vídeo abaixo). A Aymoré, financiadora do Banco Santander, tem procurado a viúva e filhos de Ornaldo da Silva Viana para que sejam pagas as parcelas do financiamento do Renault Sandero branco que ele havia adquirido. Elas deixaram de ser pagas em abril do ano passado. Sandero não tinha seguro O empresário Fernando Sastre, que matou o motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana Reprodução O motorista do Porsche azul, acusado de beber e causar um acidente trânsito a mais de 100 km/h que deixou um homem morto e outro ferido, em 31 de março, na Zona Leste de São Paulo, será interrogado às 16h do dia 2 de agosto pela Justiça. Isso ocorreu porque Ornaldo morreu em 31 de março daquele ano. O Sandero que dirigia foi destruído pelo Porsche na Avenida Salim Farah Maluf, na Zona Leste. O Sandero modelo 2018 foi avaliado em R$ 44 mil em 2021, quando Ornaldo fez o contrato de financiamento com a Aymoré. Ele adquiriu o veículo pagando o Santander. Deu pouco mais de R$ 6 mil de entrada e chegou a pagar 18 das 48 parcelas. Cada uma custava cerca de R$ 1.200. O que chama a atenção é que não foi feito seguro do Sandero na negociação. Este é um dos motivos pelos quais o banco desistiu na Justiça de reaver o carro para quitar a dívida. O outro é o fato de o veículo não ter mais condições de uso, dificultando a venda. Por isso, a instituição bancária optou por cobrar judicialmente o pagamento das parcelas restantes de Francilene Morais de Caldas, esposa de Ornaldo. Processo de cobrança Veja como foi saída de motorista do Porsche de casa de pôquer antes de acidente Mas a família do motorista disse ao g1 que não tem condições de saldar o débito. A principal reclamação dela no momento são as insistências por parte do Santander. Outra possibilidade para quitar o débito do financiamento seria o banco entrar como credor num eventual inventário do espólio da vítima. A família estaria disposta a vender para terceiros o Sandero avariado, que provavelmente não totalizaria o valor necessário para pagar ao Santander o débito total. A decisão sobre o que será feito caberá à Justiça. Até a última atualização desta reportagem ainda não havia nenhuma solução. Procurado pelo g1 para comentar o assunto, o Santander não respondeu aos questionamentos da reportagem até a última atualização deste texto, mas enviou a nota abaixo para tratar do caso, informando que irá tentar buscar uma solução: “O Santander lamenta o ocorrido e esclarece que fará contato direto com os clientes para resolver o caso." 'Não queremos ficar com esse carro' Montagem - Traseira do Renault Sandero branco ficou destruída após ser atingida pelo Porsche azul Rômulo D'Ávila/TV Globo "Não temos condições financeiras de pagar a dívida. Se o banco quiser, que leve o carro. É só vir e pegar", falou Lucas Morais da Silva, um dos três filhos de Ornaldo. O veículo está estacionado no terreno de um amigo da família. "O carro foi destruído. Não queremos ficar com esse carro. Minha família não aguenta passar aqui na rua e ver esse carro toda hora. Só nos traz lembranças ruins", disse Lucas. Ele contou que tem recebido mais de dez ligações e mensagens por dia do banco cobrando uma dívida que está sendo discutida judicialmente. Uma dessas cobranças foi feita na última terça-feira (12). Foto postada por Luam Silva (à direita) o mostra ao lado do pai, Ornaldo Viana (à esquerda). Filho pediu 'justiça' para o caso do motorista de aplicativo morto após ter o carro atingido pelo Porsche dirigido por Fernando Sastre de Andrade Filho Reprodução/Instagram "Já passamos informações do atestado de óbito e tudo, mas o banco continua cobrando a gente. Tive ligações do banco cobrando a dívida. É uma humilhação. A gente faz tudo certinho, e eles tratam a gente assim. É chato e estressante", afirmou Lucas. "O banco tem que cobrar de quem destruiu o carro. Meu pai não deixou documento dizendo que nós tínhamos que pagar o carro", declarou Lucas. O Posche 911 Carrera GTS, ano 2023, dirigido por Fernando, estava avaliado em mais de R$ 1 milhão. O veículo também ficou bastante danificado. A Justiça já havia obrigado Fernando a pagar dois salários mínimos por mês à família de Ornaldo. "Esta é a nossa grande reclamação. Respeitem o luto da família que perdeu um ente querido de forma trágica", falou o advogado Jair Sotero, que defende os interesses da viúva e dos filhos de Ornaldo. "Vamos esperar a manifestação da Justiça no processo. Somos favoráveis ao arquivamento dessa ação." Empresário está preso Vídeo mostra momento da batida de Porsche em carro de motorista de aplicativo Ornaldo estava sozinho quando transitava com o Sandero respeitando o limite de velocidade para a via, que é de 50 km/h. O Porsche que estava em alta velocidade era guiado por Fernando. O condutor do carro esportivo de luxo não se feriu. Um amigo dele, que estava no banco do carona do Porsche, ficou ferido gravemente, mas também sobreviveu. A Polícia Civil investigou o caso e concluiu que o empresário bebeu e corria com o Porsche. Fernando sempre negou essa acusação. Alegou que perdeu o controle do automóvel e não conseguiu desviar do Sandero. O g1 teve acesso ao vídeo da audiência dele (veja abaixo). Motorista do Porsche azul diz que se machucou e que não bebeu e nem correu Atualmente, o empresário segue preso por decisão da Justiça. Fernando é réu no processo no qual é acusado por homicídio qualificado por "perigo comum" (ter colocado a vida de outras pessoas em risco) cometido na modalidade de "dolo eventual" (ao assumir o risco de matar Ornaldo) e "lesão corporal gravíssima" (feriu seu amigo). A data do seu julgamento ainda não foi marcada. O g1 não conseguiu localizar a defesa do empresário para comentar o assunto até a última atualização desta reportagem.